O Blog do III Simpósio Marxismo Libertário entrevistou João Gabriel da Fonseca Mateus sobre alguns aspectos da Guerra Civil Espanhola, tema de sua palestra durante a mesa redonda no III Simpósio Nacional Marxismo Libertário cuja temática são as experiências autogestionárias e que contará também com a análise da Revolução Polonesa de 1980, por Cláudio Nascimento, e da Revolução Alemã, por Nildo Viana. Abaixo a entrevista com o historiador:
BLOG III SIMPÓSIO MARXISMO LIBERTÁRIO: Qual a importância em discutir a Guerra Civil Espanhola?
Torna-se interessante ressaltar que o processo de transição do
sistema de propriedade privada para a propriedade coletiva se deu de forma
rápida e eficiente, não afetando a terra em si ou o sistema produtivo direto. Ela
se torna base da produção do camponês pobre e trabalhador deixando ser a algoz
ferramenta dos latifundiários sobre esses mesmos camponeses. Ressaltemos no
tempo presente que os Conselhos de Fábrica do período foram se agrupando de
acordo com os seus ofícios e funções, aproximando os trabalhadores e
relacionando-os no sistema federativo de organização. Por exemplo, nos
Sindicatos de Indústria, afirma Diego Santillan, proveria a modernização da
maquinaria, juntamente com a fusão e coordenação das fábricas, além da
supressão dos estabelecimentos improdutivos, etc. Nesse sentido, os próprios
sindicatos se tornaram organismos que representam a produção local, cuidando
não só da sua preservação, como também do seu futuro, criando escolas de ensino
profissional, institutos de pesquisa e laboratórios experimentais, conforme a
sua iniciativa e os meios disponíveis.
Além disso, mostremos ao tempo presente a possibilidade histórica
de coletivização das terras, fábricas e os meios de transporte, resultado da
decisão de uma seção plenária regional da Confederação Nacional do Trabalho
(CNT), realizada em Madri a 30-10-1933. De acordo com a própria resolução:
“Declaramos que se triunfarem as tendências fascistas e por esse
ou outro motivo se produzir uma comoção popular, a CNT tem o dever de
impulsionar os desejos populares para plasmar na realidade sua finalidade
comunista-libertária”.
A experimentação analítica na Guerra Civil Espanhola descreverá a
anarquia contra a política, ou contra esse território da política, demarcado
não desde o Estado. Práticas autogestionárias não são essencialmente econômicas
ou políticas, ou simultaneamente ambas, mas afirmações.
Resumindo, a importância da discussão da Revolução Espanhola está
em produzir uma nova experimentação analítica, que aqui, investe numa
atualidade do anarquismo no hoje. Pensar a Guerra Civil Espanhola não
permitiria, assim, recriá-la, mas provocar e descrever sua atualidade na
potência que ao pensá-la acontece.
BLOG III SIMPÓSIO MARXISMO LIBERTÁRIO: Dentre as diversas interpretações desta revolução, qual é a que poderíamos dizer que é mais fiel ao que realmente aconteceu?
Além destes, deixemos como indicação os autores Pierre Broué,
Gaston Leval, Caros José Márquez, Gaétano Manfrédonia e Pierre Villar, que
debruçaram de maneira profunda sobre o tema em questão. Na palestra, ainda, farei ainda uma análise
de cartazes da Revolução Espanhola, tal qual este que o leitor encontra aqui ao
lado. Em nossa apresentação utilizaremos alguns documentos históricos, tais
quais os jornais Tierra y Libertad, Solidaridad Obrera, os Boletín de
Información de la CNT-FAI (ambos do período revolucionário) e uma seleção de
documentos do grupo feminista Mujeres Libres que a brasileira Margareth
Rago fez na obra, em coautoria com
Maria Clara Pivato Biajoli,
Mujeres Libres da Espanha:
documentos da Revolução Espanhola.
BLOG III SIMPÓSIO MARXISMO LIBERTÁRIO: Qual a semelhança entre a Revolução Espanhola e outras experiências históricas autogestionárias, como a Comuna de Paris e Revolução Russa?
Na Revolução Russa, por exemplo, afirma Maurício Tragtenberg, a
Oposição Operária dos anos 20, a Rebelião de Kronstadt (1921), a Revolução
Makhnovista na Ucrânia (1918-1921 representam a prática da autogestão das lutas
pelo proletariado, que são nada mais do que o ressurgimento de reivindicações de controle operário da
produção, autonomia sindical e dos conselhos operários e rejeição da ditadura
do partido único.
De acordo com esse mesmo autor, é na Espanha, no período 1936-39,
que se dará, em 80% do país, a prática da autogestão das lutas operárias contra
o fascismo e o capitalismo e da coletivização das fábricas e das terras. Tal
qual na Comuna de Paris, na Revolução Russa, essa prática libertária de
sociabilidade será esmagada pelo Estado e pelo Capital.
A partir desta importantíssima explanação acerca da Guerra Civil, negação da propriedade privada, chegaríamos a autogestão social dos meios de produção, e emancipação humana e política e teriamos uma sociedade de fato livre do capitalismo e seu modo de produção!
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